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Terceiro Tempo

"Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola." - Nelson Rodrigues

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O fenómeno da Liga Bielorrussa em tempos de Covid-19

18.05.20, Terceiro Tempo

Em tempos de pandemia declarada devido ao Coronavírus (Covid-19) que obrigou a parar o futebol em praticamente todos os países, houve um país que recusou a fazê-lo: a Bielorrússia. De acordo com o primeiro ministro daquele país, Aleksandr Lukashenko, bastaria apenas "beber vodka e fazer sauna" de forma a 'matar' o vírus. Declarações polémicas mas que, obviamente, aumentaram e muito o interesse por parte dos adeptos de futebol naquela liga. Até porque não existiam mais campeonatos europeus no ativo (o outro campeonato no ativo estava sediado na Nicarágua mas que não atraiu tanta atenção das massas como atraiu o campeonato da Bielorrússia).

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Antes de percebermos todo este fenómeno que foi criado à volta da Liga da Bielorrússia, interessa primeiro saber toda a história deste campeonato pouco conhecido entre os fãs de futebol. Os principais campeões, quais os motivos de interesse e os melhores jogadores que foram 'fabricados' pela passagem nesta liga do leste europeu.

A Bielorrússia é um país com cerca de 10 milhões de habitantes que assumiu a independência da União Soviética em 1990. A Independência do país (e de muitos outros que faziam parte da União Soviética) só se tornaria completa em 1991 com o colapso da União Soviética. Bielorrússia deriva do nome "Rússia Branca", o nome descrevia a área do leste europeu completamente coberta por neve.

A Primeira Liga da Bielorrússia foi constituída em 1992 e o número de equipas que disputam o campeonato tem sido alterado ao longo dos anos: se no início da sua criação eram usadas 16 ou 15 equipas. No início do século XXI, esse número foi descendo para 14 e 12 equipas. Desde o campeonato de 2016 que o número de equipas passou a ser 16 e mantém-se até aos dias de hoje.

O começo da Liga Bielorrussa foi marcado pelo domínio do Dinamo Minsk (clube da capital). Nas primeiras sete edições, o Dinamo Minsk venceu seis campeonatos o que comprovam a hegemonia do clube. A partir de 1998 assistiu-se a uma competição nunca antes vista nos campeonatos europeus daquela altura porque desde 1998 até 2005 existiram sete campeões diferentes (apenas o BATE Borisov nesse período conquistou dois campeonatos).

A entrada para o meio da primeira década do século XXI é conhecida pelo domínio do BATE Borisov que não deu qualquer hipótese à concorrência, isto porque conquistou a Liga por 12 anos seguidos (2006 até 2018) tornando-se assim o maior campeão da história do país com 15 conquistas, destronando o Dinamo Minsk que até então era o maior detentor com 7 títulos da primeira divisão. O BATE venceu ainda 7 Supertaças e, mais importante ainda, leva já 9 participações em fases de grupos da UEFA, 5 delas na Champions (a única equipa do país a conseguir tal feito) e 4 delas na Europa League (onde o Dinamo Minsk também já chegou em duas ocasiões). 

Em 2019 algo de histórico se passou. O BATE continuou o seu passeio pela Liga com 70 pontos conquistados que chegariam para vencer qualquer um dos campeonatos de anos passados mas... havia o Dinamo Brest que foi acompanhando o BATE na luta pelo título até final conseguindo mesmo tornar-se campeão com mais 5 pontos de vantagens colocando assim um ponto final nas múltiplas conquistas seguidas protagonizadas pelo BATE Borisov. Era um dia de festa para o povo de Brest que nunca tinha festejado nada de muito importante no que diz respeito ao futebol (apenas uma Taça). Até então a melhor prestação do Dinamo Brest foi um terceiro lugar conquistado logo na primeira edição, em 1992.

Nesta nova temporada de 2020, o BATE parece querer voltar ao 'trono' e encontra-se neste momento na primeira posição com 19 pontos enquanto o Dinamo Brest tem escorregado e está neste momento na 7º posição a seis pontos do primeiro lugar mas ainda com apenas 9 partidas realizadas.

Esta edição encontra-se marcada por bastante polémica porque o primeiro ministro recusou-se a parar o campeonato devido à pandemia causada pela Covid-19. Não quis seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde nem o exemplo dos mais diversos campeonatos europeus que pararam de imediato as suas ligas internas. E talvez poderá custar caro aos seus habitantes toda esta despliscência de Aleksandr Lukashenko porque os casos confirmados por Coronavirus têm vindo a aumentar de forma exponencial ao longo dos últimos dias tendo mais de 30 mil casos confirmados (na altura que esta rubrica está a ser escrita).

Vendo agora apenas do lado financeiro e com todos os campeonatos parados, a liga da Bielorrússia assumiu uma nova atenção por parte dos media. Se em tempos normais, o campeonato da Bielorrússia é um dos menos assistidos devido à falta de qualidade técnica por parte dos seus intervenientes. A Federação Bielorrussa de Futebol já conseguiu expandir a transmissão dos seus jogos para 10 países, como a Rússia, Israel ou a Índia. Dando maior destaque à liga, chegando a países que nunca tinham consumido este tipo de futebol e fazendo a aparição de novos jogadores que, com esta exposição mediática toda, poderão assinar contratos chorudos noutros países.

Muitos dos seus jogadores não querem jogar nestas circunstâncias mas isso não parece fazer diferença. Não existem planos para parar o campeonato mesmo após a suspensão de dois jogos na semana passada, uma da Primeira e outra da Segunda Divisão, foram adiadas após jogadores apresentarem sintomas suspeitos da Covid-19.

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A nível de seleções, a Bielorrússia não tem grande destaque. Desde que foi criada em 1992, nunca disputou qualquer fase final do Mundial ou do Europeu. Em 2002, ficou próximo de cumprir esse sonho mas uma derrota no último jogo da fase de grupos diante do País de Gales - que não tinha qualquer vitória no grupo até então, acabou com o sonho de chegar ao Mundial (pelo menos, chegar ao playoff de decisão). Ocupando neste momento o 70º lugar do ranking da UEFA, viram os seus jogos adiados da repescagem para o Euro 2020 devido à situação da Pandemia que afetou o futebol mundial. Estes jogos deverão ser retomados ainda durante este ano. O primeiro jogo será diante da Geórgia

A nível de jogadores que tiveram mais destaque existem três que merecem ser mencionados: o primeiro e aquele que é considerado por todos como o melhor jogador bielorrusso de todos os tempos, Aliaksandr Hleb que conta com passagens no seu currículo por Arsenal, Barcelona e Estugarda, foi o jogador que mais protagonismo e aquele que mais tempo esteve nas principais ligas do futebol. O segundo jogador é Maksim Romaschenko que fez carreira principalmente na Rússia e na Turquia. O seu nome está aqui mencionado porque é o melhor marcador de sempre da seleção com 19 golos marcados em 58 jogos realizados. Por último e aquele que viu tudo crescer à sua volta é Alyaksandr Kulchy que entrou para a seleção da Bielorrússia em 1996 e apenas saindo em 2012. É atualmente treinador das camadas jovens do Dinamo Moscovo e é também o recordista de jogos pela seleção da Bielorrússia com 102 partidas realizadas.

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