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Terceiro Tempo

"Football, bloody hell!" – Sir Alex Ferguson (1999, após a conquista da Champions League)

Terceiro Tempo

"Football, bloody hell!" – Sir Alex Ferguson (1999, após a conquista da Champions League)

Dom | 02.11.25

O dia em que a guerra parou para se jogar futebol

Em plena Primeira Guerra Mundial, num dos períodos mais sangrentos da história da humanidade, aconteceu um dos momentos mais improváveis e comoventes que o desporto já inspirou: no Natal de 1914, soldados britânicos e alemães deixaram as armas e jogaram futebol entre as trincheiras.

Natal nas trincheiras

O cenário era o da frente ocidental, na Bélgica. As temperaturas eram geladas, o terreno lamacento e o ambiente, insuportável. Mas na noite de 24 de dezembro, algo diferente aconteceu.
De repente, ouviram-se cânticos natalícios — primeiro do lado alemão, depois do lado britânico. Quando o dia amanheceu, alguns soldados começaram a sair das trincheiras, sem armas, com ramos de pinheiro e bandeiras brancas improvisadas.

O inimigo não disparou. Pelo contrário, respondeu com acenos e sorrisos.

 

Um jogo em terra de ninguém

Num pedaço de terreno destruído pelas bombas, alguém apareceu com uma bola — ou algo que servisse de bola — e, entre risos e curiosidade, formaram-se equipas.
Não há registos oficiais do resultado, nem sequer se o jogo teve regras. Mas há dezenas de testemunhos de soldados que o confirmam em cartas e diários.

Um sargento britânico, Ernest Courtney, escreveu à família:

“Jogámos futebol contra os alemães. Eles são melhores do que nós imaginávamos. O campo era irregular, mas rimo-nos todos. Foi o único momento de paz que vi nesta guerra.”

 

Uma trégua espontânea

A trégua não foi ordenada por nenhum comando militar. Foi um gesto humano espontâneo — nascido da exaustão e do desejo de um momento de normalidade.
Durou apenas um ou dois dias. Logo depois, as ordens superiores restabeleceram o combate, e muitos dos soldados que tinham trocado apertos de mão acabariam por se enfrentar novamente.

O legado do jogo mais humano da história

Mais de um século depois, a Trégua de Natal de 1914 continua a ser lembrada como um símbolo do poder do futebol — capaz de unir até os que estavam destinados a matar-se.

Monumentos em memória desse momento foram erguidos em lugares como Ploegsteert, na Bélgica, e a FIFA homenageou o episódio em 2014, no centenário da trégua.

O jogo não teve troféu, árbitro ou estatísticas. Mas teve o que o futebol deveria sempre ter: humanidade.