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Terceiro Tempo

"Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola." - Nelson Rodrigues

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Fenómeno Ronaldo na Arábia Saudita

07.01.23, Terceiro Tempo

A ida de Ronaldo para a Arábia Saudita acaba por marcar o fim do auge de um dos melhores jogadores de sempre. A fantástica forma como se apresentou durante 25 anos ao máximo nível é surreal. Apenas com muito talento e, sobretudo, com muito trabalho e dedicação diária para se conseguir manter tanto tempo no topo. Face à ausência de propostas de clubes europeus, Ronaldo não teria muita escolha que não um país (muito) periférico com capacidade de suportar o seu (elevado) salário.

A felicidade Ronaldo no dia da apresentação no seu novo clube (@GettyImages)

A ida de Cristiano Ronaldo para o Al-Nassr é histórico em vários fatores. O primeiro, marca o fim de uma era gigantesca de Ronaldo de muitos troféus e títulos no contexto do futebol europeu. Segundo, ida para uma liga com um futebol pouco desenvolvido e com a sua ajuda durante estes dois anos, pode dinamizar mais o país em termos futebolísticos e melhoramento das infraestruturas (como sabemos, uma das grandes críticas que Cristiano frisou na entrevista a Piers Morgan, eram as más infraestruturas do clube inglês). Terceiro, o próprio impacto que o português vai criar no país e na respectiva liga. Existem muitos países interessados agora em adquirir os direitos televisivos para transmitirem os jogos, existem imensos jornalistas de várias zonas do globo, a deslocarem-se para Riad de forma acompanharem de perto a nova vida de Cristiano. E todo este buzz gerado em volta do craque português, vencedor de cinco bolas de ouro, é merecido e torna-o único no panorama mundial. Como o próprio disse na sua apresentação «é um contrato único porque eu sou único». Parece-me que não é preciso dizer mais nada.

Para se ter uma ideia clara do popularismo de Cristiano Ronaldo, antes da chegada do craque ao clube árabe, o Al-Nassr tinha cerca de 700 mil seguidores, ao dia que se está a escrever este artigo (7 de janeiro), o Al-Nassr conta com mais de 10 milhões de seguidores. Para se ter uma ideia, tem mais seguidores que as páginas de FC Porto, SL Benfica e Sporting CP juntas (cerca de 6,5 milhões de seguidores).

Existe fãs de outros clubes, nomeadamente do Al Hilal, um dos principais rivais do Al-Nassr, dispostos a comprarem camisolas do clube rival devido a ser um momento histórico para o futebol daquele país. Ainda para mais sabendo que é possível que a Arábia Saudita acabe por sediar o Mundial de 2030 (em luta está também a candidatura  conjunta de Portugal, Espanha e Ucrânia).

Ainda não se sabe ao certo quando será a estreia de Cristiano Ronaldo pelo Al-Nassr, nem se sabe em concreto se terá alguma transmissão televisiva por um país europeu (até ao momento nenhum país transmite jogos desta liga) mas em termos de mediatismo, o país ganhou e vai continuar a ganhar, uma visiblidade que nunca antes teve (e que será difícil repetir num futuro próximo). Agora só compete ao próprio Ronaldo, longe dos holofotes (em termos de pressão mediática, pressão de títulos europeus) continuar a fazer aquilo que ele tão bem sabe: marcar (muitos) golos.

NOTA: No último artigo que realizamos acerca de Cristiano Ronaldo foram muitos os comentários clubísticos a criticar a publicação. A publicação lá está, é uma opinião e está bem explícito o quanto Ronaldo foi importante para o país, para os clubes por onde passou. Aliás, no último parágrafo, existe um agradecimento ao craque por tudo o que nos deu (e vai continuar a dar). É preciso entender que, atualmente, o Ronaldo não é o mesmo jogador, a idade pesa, é natural. Não que esteja a fazer uma má temporada, simplesmente o Ronaldo habituou-nos 'mal' com temporadas em que chegou a ter mais de 50 golos. É preciso saber dar o braço a torcer e deixar espaço para outros brilharem. O seu trabalho pela seleção foi lindo que não deveria ter ficado manchado pelo Mundial no Catar. Temos uma seleção muito promissora que, acredito, vai continuar a honrar os pergaminhos deixados por Cristiano Ronaldo.