Chencho Gyeltshen, o Ronaldo do Butão
Chencho Gyeltshen deverá ser um nome desconhecido para a maioria dos amantes do desporto rei, isto porque joga no joga num país (e seleção) com pouca expressão e consideravalmente reduzido tendo em conta outros países da Ásia. O Butão, um país localizado no sul da Ásia, conta apenas com 700 mil habitantes, felizmente o jogador Chencho Gyeltshen tem a oportunidade de ser chamado de CG7, o Ronaldo do Butão, devido ao seu estilo de jogo e por ser fã acérrimo do internacional português.
Há 23 anos atrás, a 10 de maio, nascia no distrito de Paro, Chencho Gyeltshen. Paro, apesar de ser a única cidade que possui um aeroporto naquele país, situa-se a aproximadamente 50 quilómetros de Thimbu, que é considerada a capital daquele país. Desde pequeno mostrou o gosto pelo futebol, muito por culpa e incentivo do seu irmão mais velho (que não seguiu a carreira de jogador) porque se não teria entrado para um grupo de artes marciais, como é natural naquela região da Ásia. Decidiu parar os estudos para se dedicar a 100% ao futebol e tentar uma carreira como jogador profissional. Integrou as camadas jovens do Druk Athletic, clube sediado na capital do país, que disputou pela primeira vez, em 2011, a principal divisão daquele país. Em algumas entrevistas, sempre citou que é em Cristiano Ronaldo em quem se inspira por sua dedicação tê-lo tornado o melhor jogador do mundo mais de uma vez. Talvez por isso que a sua posição em campo é a de avançado.
Em 2008, com apenas 12 anos, o jogador butânes, ingressa nas camadas jovens do Yeedzin, clube que também estava sediado na capital. Até 2014, Chencho esteve no clube, conquistando por uma vez o campeonato da primeira divisão sendo um dos jogadores mais importantes nessa conquista. Foram também finalistas vencidos na Taça, a excelente exibição de Gyeltshen, coroada com dois golos, não foi suficiente para levantar a taça. Nesse mesmo ano, volta para o Druk City para disputar a segunda divisão do país, mas sem conquistar nada de muito relevante.
Em 2015, com 19 anos, o jogador decide mudar de clube, mas manter-se na capital do Butão, ingressa no Thimphu que disputava também a segunda divisão. Nesse ano, Chencho em apenas 10 jogos marcou 20 golos, o que chamou atenção de clubes de outros países. Era o início do sonho para Chencho se tornar jogador profissional de futebol.
Foi oferecido a diversos clubes, como é o caso do Macchindra FC, do Nepal, que aceitou em ter o jogador nos seus quadros mas que deveria primeiro concluir os estudos para assinar um contrato pelo clube. Sendo assim, no início de 2015, o Buriram United, da Tailândia, aceitou que o jogador realiza-se alguns testes à experiência no clube. O Buriram disputa a primeira divisão da Tailândia e onde o futebol tem mais condições que aquelas que Chencho teria no Butão. Depois de ter participado, durante um mês, num grande número de treinos e jogos amigáveis pela equipa principal do Buriram United, o período de experiência chegaria o fim e Gyeltshen teria de voltar a casa. Devido a umas complicações com o voo, a sua passagem foi cancelada e teve de permanecer na cidade por mais uns dias e o Buriram aceitou em contar com o jogador por mais algum tempo. E é aqui o momento de viragem. Com o início do campeonato da Tailândia, Chencho teve a oportunidade de disputar dois jogos oficiais pelo clube, um deles, entrou aos 80 minutos e, passado apenas 4 minutos, fazia o gosto ao pé e marcava o seu primeiro golo como jogador profissional. Este golo deu-lhe protagonismo internacional e foi oferecido pelos dirigentes do Buriram um contrato para permanecer mais algum tempo na Tailândia. Porém, Chencho recusou a hipótese: «Poderei voltar ao clube num futuro próximo mas, neste momento, tenho de voltar ao Butão e ao meu clube que está à minha espera».
O regresso ao seu país não se deu por muito tempo, isto porque o jogador voltaria à Tailândia para jogar pelo Surin City, uma filial do Buriram United, que estava na segunda divisão. O Buriram chegou acordo com o Thimphu para a transferência do jogador que assinou um contrato válido por uma temporada e meia. Com este contrato, Chencho Gyeltshen tornou-se no primeiro jogador de sempre do Butão a ter um contrato profissional num clube fora do seu país. Não é conhecido o seu registo na totalidade na passagem por empréstimo pelo clube, alguns sites afirmam que marcou nove golos durante toda a temporada, um bom pronúncio para um jogador que tinha acabado de se tornar profissional. Sem espaço no clube no seu regresso do empréstimo, seria novamente emprestado desta vez ao Nonthaburi FC onde esteve apenas durante um mês, isto porque Chencho rescindiu o seu contrato com o Buriram para assinar pelo Satun United, também da Tailândia, um contrato que seria válido por duas temporadas.
Ao terminar a época no Satun com apenas três golos marcados e sem espaço no clube, Chencho volta ao Butão para representar novamente o Thimphu. Com a experiência que adquiriu em campeonatos mais competitivos, a sua chegada ao Thimphu foi fundamental ao tornar-se o melhor marcador do campeonato com uns impressionantes 15 golos em apenas 10 jogos realizados. Com a boa época realizada na segunda divisão, Chencho chamou atenção do Terton, clube que tinha acabado de ser campeão da principal divisão do Butão, em 2016. Aí, apenas participou em dois jogos oficiais com dois golos marcados porque pouco tempo depois, o atacante volta a mudar de ares, desta vez o destino seria o Bangladesh.
Ainda estavamos em 2016, e Chencho já tinha jogado por três clubes diferentes. Chegou ao Chittagong Abahani, clube da primeira divisão do Bangladesh, com um contrato de apenas três meses com um salário mensal de 4 mil euros, tornando-se, naquele momento, o jogador mais bem pago do país. Sem conquistar nada de muito relevante, ao acabar o contrato de três mses com o clube, o Chittagong comunicou que optou por não renovar contrato com o jogador e Chencho regressaria ao Butão. Ao serviço do clube do Bangladesh, em três meses, marcou 5 golos em 7 jogos efetuados.
Em janeiro de 2017, com apenas 20 anos e com passagens por oito clubes diferentes, assinou contrato pelo Thimphu City (não confundir com o clube apenas Thimphu que Chencho também representou) tornando-se o nono clube da sua carreira. Participou na qualificação para a Liga dos Campeões asiática mas o Thimphu foi eliminado ainda nas fases preliminares da competição, mesmo assim, foram a equipa do Butão que mais longe conseguiu chegar naquela competição. Para o campeonato de 2017, Gyeltshen marcou 22 golos em apenas 14 jogos, tornando-se, sem surpresas, o melhor marcador do campeonato (pela segunda vez), e o Thimphu tornou-se campeão sem qualquer derrota (13 vitórias e 1 empate) com 40 pontos (num máximo de 42) conquistados. A excelente época no panorama individual, valeu o salto para a Índia.
Em agosto de 2017, o Minerva Punjab, da segunda divisão indiana, chegou acordo com Chencho Gyeltshen num contrato válido por um ano. O Minerva não teria grandes expetativas para aquela época, com o desenrolar dos jogos, e Chencho a ser titularíssimo na equipa e peça fulcral (não perdeu qualquer jogo), o Minerva acabou por alcançar a promoção para o principal escalão com o Ronaldo do Butão a marcar por 7 vezes em 18 jogos. Com mais uma bela época protagonizada pelo avançado, o Bengalaru, também da Índia, resolveu contratar o jogador que, tal como aconteceu no Minerva, um contrato válido de apenas uma temporada.
Não tendo o mesmo protagonismo que teve nos últimos dois anos, a meio da época, Chencho tinha apenas 9 jogos realizados e apenas 4 foram na condição de titular. Com apenas dois golos marcados e sem convencer o técnico, Chencho é emprestado ao NEROCA da segunda divisão indiana para voltar a ganhar algum ritmo, participa em cinco jogos, em todos eles a começar de início, e fez balancear as redes por 2 vezes. Terminou a época com quatro golos marcados, manifestamente pouco para aquilo que vinha a protagonizar. Mesmo assim, foi uma época de festa porque o Bengalaru tornou-se campeão da primeira divisão da Índia pela primeira vez na sua história e Chencho também contribuiu para esse título.
Em janeiro deste ano, com 23 anos, Chencho volta a casa para representar o Paro FC que disputaria também a qualificação para a Liga dos Campeões Asiática. E as coisas não estão a correr mal para já. A primeira equipa no caminho era os Defenders Football Club do Sri Lanka. Com dois empates (3-3 no Sri Lanka e 2-2 em casa, no Butão) valeu a regra dos golos fora para o Paro FC seguir em frente na prova. Se não fosse por Chencho, provavelmente teriam sido eliminados: no primeiro jogo, no Sri Lanka, Chencho fez o gosto ao pé e uma assistência e no jogo em casa, no Butão, Chenco voltaria a marcar sendo decisivo para a continuação em prova do Paro. A segunda eliminatória, quis o destino que fosse contra o seu último clube, o Bengalaru. No primeiro jogo realizado no Butão, o Paro perdeu por uma bola a zero levando contrariando o imenso favoritismo do Bengalaru. Mas o que aconteceu no jogo de ida, na Índia, a 12 de fevereiro de 2020 foi para esquecer: o Paro foi goleado por 9-1, com o único golo a ser marcado, claro está, por Chencho Gyeltshen.
Resolvemos deixar aqui este espaço para dedicar à seleção do Butão que com Chencho têm crescido nos últimos anos tendo, em 2016, atingido a posição 177 do ranking, um máximo para a seleção do Butão (atualmente encontram-se na posição 189). Chencho, que neste momento possui 35 internacionalizações com 9 golos marcados, estreou-se pela seleção do Butão a 3 de março de 2015 com apenas 15 anos num amigável diante do Nepal.
A sua estreia numa competição oficial foi num jogo diante do Sri Lanka nas pré-eliminatórias de apuramento para o Mundial 2018 que terminou com uma vitória por 1-0. O seu primeiro golo pela seleção foi no jogo seguinte, novamente diante do Sri Lanka (desta vez jogando em casa), o Butão ganhou por 2-1 com o golo da vitória a ser marcado já no tempo de compensação. Nessa partida, Chencho bisou e tornou-se o novo herói do futebol butanês. O Butão tinha-se qualificado pela primeira vez para a fase de grupos de apuramento de um Mundial, tendo calhado num grupo com a China, Maldivas, Hong Kong e Catar terminando a fase de grupos em último lugar com... zero pontos. Um grupo difícil, com países que têm mais condições e onde grande parte dos jogadores jogam como profissionais e apenas têm o futebol como sustento das suas vidas. Mesmo assim, a história foi feita.
Atualmente, para o apuramento para o novo Mundial, o adversário das pré-eliminatórias foi o Guam, que um território insular dos EUA na Micronésia. Se o primeiro jogo em casa correu da melhor forma possível com a vitória por uma bola a zero, Chencho e companhia não esperariam certamente que a segunda mão não fosse correr da melhor forma: o Butão foi goleado por 5-0 e disse adeus a uma possível chegada à fase de grupos de apuramento. Uma desilusão.
Não sabemos o que o futuro reservar a Chencho. Percebemos que é pode ser considerado atualmente o melhor jogador do Butão apesar da sua tenra idade (23 anos). O salto para um país com uma liga mais competitiva deverá estar no horizotne de Chencho e, quem sabe, um dia jogar no futebol europeu. Se conseguir estabilidade a nível de carreira, são raras as vezes que passou mais que uma temporada num clube, poderão ser fundamentais para Chencho atingir um outro patamar futebolístico. Apesar de tudo, não é qualquer jogador que pode ser considerado como o Ronaldo do Butão.