Se há jogadores que pensamos que não poderiam ter uma época aquém das expectativas, as primeiras duas pessoas que pensamos logo serão certamente em Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. O madeirense há muito nos habituou a marcar mais de 40 golos por temporada e sempre pensamos que nunca iriamos ver o declínio destes dois jogadores. O que é certo é que desde o início da temporada, em julho, Ronaldo tem vindo a 'colecionar' maus momentos que têm desgatado a sua imagem e, ao mesmo tempo, afetado imenso o seu futebol.
O Mundial do Catar era o grande objetivo para Cristiano voltar à ribalta depois de uma meia época de pouco fulgor ao serviço do Manchester United. Com poucos golos marcados, algo que certamente não estamos habituados no astro português, Ronaldo chega ao Mundial como desempregado depois de ter protagonizado uma entrevista bombástica onde criticou toda a direção do Manchester United. Só havia um caminho possível depois dessa entrevista: a rescisão do contrato entre o clube inglês e Ronaldo, terminando assim uma ligação de pouco mais de um ano com o emblema de Manchester, onde havia sido o melhor marcador da equipa na temporada anterior.
Conseguindo o que queria (rescisão do clube de Manchester), Jorge Mendes, seu amigo e empresário, rapidamente apressa-se em contactos para tentar colocar o português num clube que esteja a disputar a Liga dos Campeões e... as portas foram-se fechando com muitos clubes a não terem interesse em contratar o astro português. Devido ao seu elevado estatuto e com uma personalidade difícil de lidar, ainda para mais nesta fase mais avançada da sua carreira. Ronaldo deveria ter dado um passo atrás, não olhar para o salário e optar por uma equipa onde ainda conseguisse ser titular e disputar algum título (aqui por exemplo entram opções como Mónaco, Newcastle ou o próprio Sporting).
Com o mercado fechado e Ronaldo totalmente focado no Mundial, obviamente não seria partilhada qualquer notícia acerca do futuro do mesmo. Era o derradeiro momento para Ronaldo, aquele Mundial, provavelmente o seu último e, jogando sem qualquer clube, poderia estar ali a oportunidade de se abrir a porta de um clube que estivesse na lista de desejos do português, infelizmente o Mundial, a nível individual, foi péssimo e essas mesmas portas que ele certamente estava à espera que se abrissem, na realidade ficaram ainda mais trancadas.
O Mundial ainda nem sequer tinha começado e os jogadores da seleção nacional eram bombardeados com as questões de Ronaldo. A própria comunicação social portuguesa fez imensas questões, criou possíveis desavenças (p.e, a de Cristiano com Bruno Fernandes) criando alguma instabilidade no seio da seleção. Mesmo que os jogadores afirmem que não foram afetados, é natural que sim, são humanos e mexe sempre com o emocional de cada um.
Ainda assim a expectativa esta lá em cima. A seleção portuguesa possuí um conjunto de bons jogadores mas que em equipa tardam em demonstrar todo o potencial que deveriam (falando apenas no quesito exibicional). Ronaldo é titular no primeiro jogo da seleção no Mundial diante do Catar e, mesmo com uma exibição fraca do conjunto das quinas, Portugal consegue vencer o Gana com Ronaldo a fazer um dos golos da vitória. A vitória deu um novo alento ao país e a Cristiano.
Os jogos seguintes não continuaram na mesma senda para Ronaldo que acabou por se ver envolvido em nova polémica no jogo diante da Coreia do Sul (com as imagens a captarem a frase: "estás mortinho para me tirar") onde voltou a ficar em branco (também o tinha ficado na segunda jornada, diante do Uruguai). Depois desta polémica, nunca mais voltou a ser titular e as coisas "pioraram" para ele depois de ver Gonçalo Ramos, avançado do Benfica, a fazer um hattrick na primeira vez que é titular na equipa das quinas. Gonçalo "agarrou" o lugar e "mandou" Ronaldo para segundo plano na equipa.
Antes do jogo de Marrocos, a imprensa voltou "ao ataque". Desta feita que Ronaldo já teria acordado uma transferência para o Al Nassar, numa transferência avaliada em muitos milhões de euros. Depois de nenhum clube europeu se ter chegado à frente, fontes diziam que o destino mais provável do melhor marcador de sempre da seleção nacional seria a Arábia Saudita.
Contra Marrocos, era difícil deixar o pistolero de fora do onze inicial. O jogo não correu bem a Gonçalo (nem a Portugal) e Ronaldo, quando entrou, também não conseguiu fazer o que tão bem nos habituou: a diferença. Teve oportunidades, tentou levar a equipa para a frente, mas Portugal via-se novamente eliminado do Mundial com o sabor que poderíamos ter chegado bem mais longe.
Durante todo o Mundial, mais polémicas. Nomeadamente a envolver a família do jogador. As irmãs acérrimas a defender o jogador e a sua namorada, Georgina, a criticar publicamente o treinador da seleção nacional Fernando Santos. Ronaldo não precisava disto. Ronaldo não pode ser "imune" às críticas simplesmente porque "fez muito pelo futebol nacional". As pessoas não têm memória curta e estarão, certamente, eternamenta gratas ao que Ronaldo fez pela seleção, pelos recordes, pelos títulos que alcançou. Essa gratidão existirá sempre. E ao lado da gratidão também vem a crítica. Ronaldo não está no seu melhor momento de forma, longe disso. Aliás, é incrível como aguentou tanto tempo no topo do futebol mundial. Ronaldo não deveria sair da seleção pela porta pequena, a maior figura do nosso desporto. E, segundo a imprensa, a sua ida para um clube de pouca mediatismo é encerrar a sua carreira de forma que ele não merecia.
Deixo aqui publicamente o meu agradecimento ao Cristiano Ronaldo por tudo de bom que fez pelo nosso futebol e deixo igualmente a minha crítica a estes últimos 6 meses de Ronaldo. Às vezes é preciso saber bem com as pessoas que nos rodeamos e não serem simplesmente um yes man. Toda a sua gestão das redes sociais (e restante família) nomeadamente na altura do Mundial foi deplorável. Uma vergonha para um jogador tão mediático como Ronaldo.