Bojan Krkic, a maior promessa de La Masia após Messi
Bojan Krkic é um nome que quando as pessoas ouvem falar e recorda com alguma saudade. O craque de despontou no Barcelona apenas com 17 anos e na época de estreia termina com 12 golos apontados em todas as competições, eram um excelente prenúncio que estaríamos perante uma das maiores promessas do futebol mundial e que teria tudo para singrar no futebol ao mais alto nível. 13 anos após a estreia da primeira equipa do Barcelona, verifica-se que a carreira de Bojan passou completamente ao lado. O que terá acontecido?
Bojan Krkic nasceu em 1990 em pleno seio catalão, filho de país sérvios, o pai, também ele chamado Bojan Krkic, trabalhava como olheiro do Barcelona, após ter terminado a sua carreira de futebolista ao serviço do Mollerussa, clube da Catalunha com apenas 25 anos.
Desde cedo incutiu o gosto e prazer do futebol ao seu filho e assim que fez 9 anos, entrou para a academia do Barcelona, conhecida como La Masia e só saiu onze anos depois. No seu período em La Masia, conhecida Academia que fabricou imensos talentos como Messi, Xavi, Iniesta e agora mais recentemente Fati, Bojan marcou de 900 golos nas camadas jovens fazendo dele a maior promessa daquela geração do futebol mundial.
A explicação pode estar justamente na precocidade da carreira. E a falta de estrutura mental para aguentar a pressão de se tornar uma estrela aos 16 anos. Foi com essa idade que ele estreou pela equipa principal. Com 17 anos e um mês, já marcava seu primeiro golo como profissional enquanto Messi, por exemplo, só balançou as redes com 17 anos e 10 meses.
Tudo estava a correr de feição, jogar ao lado dos seus ídolos, e receber constantemente elogios dos seus companheiros e treinador de equipa levaram a ser criada uma enorme pressão em cima dos seus ombros que Bojan não conseguiu aguentar. Mesmo com quatro anos de equipa principal relativamente bons, Bojan oscilava sempre entre a titularidade e o banco de suplentes nunca tendo uma sequência de jogos titulares que o fizesse engrenar na equipa. E a explicação sobre esses momentos do Barça e o porquê de não terem corrido da forma que esperava foram explicados pelo próprio numa entrevista impressionante ao jornal francês L'Equipe:
O Bojan do Barcelona era 100% jogador de futebol, mas não estava preparado para suportar todo o impacto mediático. Era um jovem de 17 anos, que jogava num clube como o Barcelona. Foi um grande choque. Encontrei um balneário onde estavam Eto'o, Puyol, Maxwell, Iniesta... Cada dia era um sonho. No balneário não fazia (nada), basicamente. Lembro-me perfeitamente do primeiro dia. Estava sentado a cinco metros de onde estavam a garrafas de água. Tinha sede, mas nunca me levantei para apanhar uma garrafa. Tinha medo de fazer algo de errado...
Bojan numa entrevista ao jornal L'Equipe em 2018
Despontando no Barcelona, Bojan rapidamente era chamado à seleção espanhol também para evitar que o jogador fosse chamado à seleção da sérvia, de onde os pais são naturais. A sua estreia deu-se a 10 de setembro de 2018 e Bojan entrou para os últimos 25 minutos da partida na vitória por 4-0 frente à Arménia. Com apenas 17 anos e a estreia na roja, tudo fazia prever que seria a primeira de muitas internacionalizações mas... está errado. Bojan nunca mais participou em nenhum jogo da sua seleção e isto deve-se ao próprio Bojan que resolvou "colocar um travão" em tudo o que se passava à sua volta devido aos ataques de ansiedade que ia tendo, era demasiada pressão nos ombros de um jovem que apenas o que queria fazer era jogar futebol:
Foi aí que tudo começou. Senti-me angustiado e tive de parar. Tudo aconteceu a partir daí. Nem sequer era um adulto. Depois decidi não ir ao Europeu. Precisava de me desligar do futebol e de me afastar dos meios de comunicação. Nunca me arrependi dessa decisão.
Bojan ao jornal L'Equipe
Tudo foi comunicado como um problema gástrico que Bojan tinha tido mas foi muito mais que isso. Ataques de ansiedade levaram com que desligasse do futebol por algum tempo, nomeadamente na altura do Europeu, em 2008. Mas não foi apenas esse ataque de pânico que o jogador teve. É que no meio deste ano, ele revelou ao jornal espanhol Marca que as suas primeiras temporadas no Barcelona, sofreu com ataques de pânico. Em alguns, teve de passar a noite no hospital após começar a tremer depois de uma partida. Portanto, podemos perceber que o facto de Bojan não ter triunfado em Barcelona nem foi tanto por problemas dentro de campo ou ser mau profissional, foi o facto de não aguentar ter toda a mídia em cima de si, toda a gente a querer saber o porquê de Bojan ser o melhor jogador jovem do mundo e tudo isso levou a não conseguir lidar com a pressão nem ter capacidade emocional para tal. Era apenas um menino com 17/18 anos...
Bojan, com toda a pressão, sentia a necessidade de deixar o futebol espanhol para rumar a Itália, para integrar a equipa da Roma. Os romanos pagaram 12 milhões pelo jogador com o Barcelona a ter uma cláusula de recompra de 13 milhões que poderia exercer até ao limite de três anos. Mas convém realçar que a sua estadia em Barcelona, em termos de títulos, foi avassaladora, Bojan contava no currículo, na altura que deixou o Barcelona, com duas Liga dos Campeões, um campeonato do Mundo de Clubes, três Ligas Espanholas e algumas taças. Impressionante. Tudo isso ficou para trás e o seu futuro seria o clube da capital romana, o AS Roma.
O facto de ter escolhido um clube com menor expressão para continuar a espalhar o seu talento, Bojan continuou sempre com os holofotes em cima de si. A jogar ao lado de Totti e fazendo 37 jogos pelo clube, embora apenas metade deles como titular, Bojan fez balançar as redes por 7 vezes para a Serie A. Os números não foram os desejados e os dirigentes do clube romano decidiram que o melhor para Bojan seria rodar. O clube? Nada mais, nada menos que o poderoso AC Milan.
O empréstimo ao Milan não correu da forma como Bojan esperaria. Raramente foi opção para o técnico Massimiliano Allegri e terminaria a época apenas com três golos marcados. Algo manifestamente pouco para um jogador que se esperava tanto. Mesmo assim, o Barcelona resolveu exercer a cláusula de compra que possuía e resgatou o jogador por apenas 13 milhões de euros. Mas não iria entrar no plantel do Barcelona, não tinha espaço, o Barcelona estava com uma super equipa e ambas as partes verificaram que um (novo) empréstimo seria importante para Bojan. Desta vez, rumaria ao Ajax, um clube mítico, numa liga não tão competitiva como a Liga Espanhola, nem tão dura como a Liga Italiana pelo que o futebol holandês, com mais espaço e com um futebol de ataque poderia ser importante para Bojan voltar a encontrar o seu melhor futebol. O empréstimo era válido por uma época e, em caso de bom rendimento do espanhol, poderia o empréstimo ser extendido por mais um ano.
Bojan, que é o jogador mais jovem de sempre atingir os 100 jogos com a camisola blaugrana, começou bem a época no Ajax, como titular no primeiro jogo oficial, a Supertaça, competição que o Ajax conquistou mas Bojan não escreveu o seu nome na lista de marcadores nesse jogo, aliás, só iria marcar por cinco vezes em toda a temporada, todos os golos para a liga holandesa, competição que Bojan e o "seu" Ajax também viria a conquistar. Se do ponto de vista colectivo, a época correu bastante bem para Bojan, a nível individual esteve longe do que Bojan estaria à espera muito por culpa da lesão que sofreu no início de época, após a conquista da Supertaça da Holanda, que levou Bojan a ficar fora dos convocados durante dois meses e meio. E sem ter o rendimento esperado, o Ajax não exerceu a opção de extender o empréstimo e Bojan voltaria a Barcelona sem singrar fora da Espanha, pela terceira vez consecutiva mas com guia de marcha para Inglaterra.
Se não conseguia o obter o rendimento esperado fora do Barcelona, os dirigentes do clube catalão não viam espaço para Bojan Krkic no plantel. Sendo assim, e para se livrarem do jogador, resolveram vender a um preço "de saldo". Em 2014, o clube que se chegou mais rapidamente à frente foi o Stoke City, da Premier League, que por 1,8 milhões de euros apenas, comprou o jogador que assinou um contrato válido por três temporadas.
Longe dos holofotes, estando num clube de baixa dimensão de Inglaterra, Bojan tinha a oportunidade de voltar a ter prazer em jogar futebol. Ter em atenção que nesta altura, Bojan tinha apenas 23 anos. Ainda estava completamente dentro do tempo de voltar a encontrar o seu caminho e tornar-se tudo aquilo que as pessoas estavam à espera desde que começou a despontar no clube culé.
No Stoke, sem toda a pressão da mídia e dos adeptos que teria se tivesse a jogar num Barcelona, Milan ou Ajax, Bojan voltou às boas exibições. Em seis meses com a camisola vermelha e branca vestida, Bojan foi sempre opção e na esmagadora maioria das vezes titular. Jogando mais no apoio ao avançado Peter Crouch, Bojan chega a janeiro com 4 golos marcados com o Stoke City a ocupar o 9º lugar da tabela. O problema veio depois, no final de janeiro, Bojan lesiona-se no joelho (rotura de ligamentos) que obrigou a uma paragem de seis meses, perdendo tudo o que restava da época. Felizmente foi a última lesão da carreira de Bojan até ao momento.
Na temporada seguinte e devidamente recuperado, Krkic volta ao bom nível exibicional, sendo peça importante no 9º lugar alcançado pelo Stoke City (o melhor lugar de sempre para a equipa inglesa). Participou em 32 jogos, 27 dos quais na condição de titular, fazendo o gosto ao pé por sete vezes, todas elas para o campeonato. Era um bom prognóstico para uma terceira época ao serviço dos Potters de afirmação total que até valeram uma renovação de contrato com aumento salarial.
A temporada de 2016/17, Bojan com 26 anos, perdeu espaço no clube. A concorrência era muita: Bony, Arnautovic, Saido Berahino, Diouf, Shaqiri, etc. Eram muitos jogadores que podiam jogar nas posições da frente e o espanhol sofreu com isso. Jogando apenas 500 minutos até janeiro com 4 golos marcados, Bojan abandona a Premier League em janeiro e estreia-se na Bundesliga, o destino era o Mainz, que estava em maus lençóis na altura com uma possível descida de divisão que não se concretizou. A manutenção foi assegurada apenas na última jornada (com igualdade pontual com o Wolfsburgo que desceu) com Bojan a não ter o efeito desejado na equipa. Com apenas 1 golo marcado em 11 participações na Bundesliga não foram suficientes para os dirigentes do clube alemão avançarem para a sua contratação. Sendo assim, Bojan voltaria a Inglaterra sem triunfar na Alemanha, uma vez mais Bojan ficava aquém.
De regresso a Inglaterra, Bojan sabia que poderia não ter lugar na equipa inglesa. Jogou os dois primeiros jogos com a camisola dos Potters (um para a Premier League e outro para a Taça da Liga) na condição de titular mas com exibições a não convencerem os adeptos. No último dia do mercado, Bojan é emprestado ao Alavés. Era assim o regresso de Bojan ao futebol espanhol onde já tinha sido bastante feliz com a camisola do Barcelona. O empréstimo era válido por uma temporada e não contemplava cláusula de compra.
O regresso ao seu país foi difícil, raramente foi opção para os 4 (!) treinadores que estiveram ao serviço do Alavés naquela época. Com apenas 11 jogos realizados para a La Liga (apenas 400 minutos) e zero golo marcados, Bojan não deixaria saudades para a afícion e voltaria para o Stoke City. O clube inglês teve uma época atribulada depois de épocas bastante bem conseguidas. A descida de divisão foi uma realidade e o clube jogaria o Championship (equivalente à segunda divisão portuguesa) com a expectativa de voltar à elite do futebol inglês o mais rapidamente possível. Devido a isso, Bojan permaneceu no plantel com o objetivo de assegurar a subida de divisão. Com exibições francamente más no segundo escalão inglês, com 21 jogos, apenas 736 minutos e um golo marcado valeram não só uma época sofrível a nível individual como a nível colectivo com o Stoke a terminar na 17º posição. Com a reestruturação feita nos Potters no final da temporada, Bojan tinha guia de marcha para experimentar outros 'ares' porque estava em final de contrato.
Bojan assinaria a custo zero pelo Montréal Impact, equipa do Canadá, que disputa a MLS (competição nos Estados Unidos) que teve como maior estrela Didier Drogba que, em final de carreira, optou também por jogar na MLS. Com apenas 29 anos, Bojan ruma ao oitavo clube diferente da carreira, o primeiro clube fora do continente europeu. Ruma a um campeonato que tem crescido nos últimos anos, em termos de qualidade exibicional como em número de pessoas assistir aos jogos nas bancadas. Ao serviço do Móntreal Impact, Bojan participou em 10 encontros e marcou um golo, conquistado a Canadian Championship (uma espécie de Taça apenas com os clubes do Canadá) colocando um interregno de domínio do Toronto FC. Não é certo como será o futuro daqui em diante para Bojan Krkic. Sabemos apenas que passou ao lado de uma carreira que muitos esperavam que fosse triunfante. Para acabar esta rubrica O que aconteceu, deixaremos aqui umas últimas palavras de Bojan, um meses após ter assinado pelo Montréal:
Eu amo futebol. Jogar futebol é o que me deixa mais feliz no mundo. Portanto, quando o Montréal encontrou em contacto comigo para vir para aqui, senti esse sentimento, decide que o melhor a fazer essa vir para o Canadá, para voltar a desfrutar do futebol.
Bojan Krkic em entrevista ao site oficial do Montréal Impact