Royston Drenthe, quando a mentalidade e atitude deixam-te sem oportunidades
Royston Drenthe foi uma das maiores promessas do futebol mundial mas actualmente joga na segunda divisão do seu país natal, no Sparta Rotterdam. Longe dos grandes palcos e dos holofotes da mídia, o que deu errado na carreira de Drenthe para não ter conseguido manter o nível exibicional?
A célere música de António Variações - "Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga" - assenta que nem uma luva na carreira de Royston Drenthe. Um jogador que esteve no estrelato mas devido a acontecimentos extra-futebol, viu a sua carreira entrar numa decadência extrema até chegar ao ponto de abandonar o futebol por uns tempos para se dedicar à música.
Royston Ricky Drenthe nasceu a 8 de abril de 1987 na cidade de Roterdão, na Holanda, mas com origens do Suriname. Desde muito cedo se percebeu que tinha habilidade com a bola nos pés, não fosse ele primo de um dos melhores jogadores holandeses da atualidade, Georginio Wijnaldum.
Começou a dar os primeiros pontapés na bola num clube do bairro chamado Neptunus onde acabaria por evoluir e dar nas vistas aos principais clubes da cidade e em 2000 acabaria por ingressar nas camadas jovens do Feyenoord (ainda teve um curto período - dos 15 aos 16 anos - no Excelsior, mas rapidamente voltou ao Feyenoord). Na primeira temporada que teve hipóteses na equipa principal acabou por não largar mais o onze inicial. Um jovem de 18 anos, muito rápido e com uma capacidade de drible bem acima da média para o campeonato holandês, fizeram com que fosse dono e senhor do lugar da faixa esquerda do Feyenoord durante a temporade de 2006/2007. O culminar da excelente época acontece na chamada para o Campeonato da Europa de Sub-17 (em que a Holanda é a vencedora) com Drenthe a ser um dos jogadores fundamentais na caminhada da Holanda rumo ao título, este bom desempenho e com "meia Europa" a querer assegurar a jovem estrela, foi o Real Madrid que se chegou à frente e pagou 14 milhões de euros pelo prodígio.
Na primeira época vestido de blanco, Royston Drenthe, apenas com 19 anos, assumiu algum protagonismo e nessa temporada ganhou a Liga Espanhola. Era difícil pedir melhor para um ano de estreia no clube onde, talvez, a pressão existente seja maior do que em qualquer outro clube. Drenthe termina a sua primeira época com 26 jogos efetuados, 10 como titular e com 3 golos marcados, algo bem razoável tendo em conta que Drenthe sempre actuou mais como defesa-esquerdo.
Se a primeira temporada de Drenthe no clube tenha deixado alguns adeptos com a água na boca porém não se viu muito mais magia do pé esquerdo do Holandês nas temporadas seguintes. Representou o Real Madrid por mais duas temporadas, somando essas temporadas acabaria por jogar 28 vezes e marcando por uma vez porém apenas jogou 1456 minutos (equivale a mais ou menos 17 jogos completos). Poucos minutos para um jogador que precisava de jogar para evoluir.
Nunca mais voltaria a vestir a camisola do Real Madrid mesmo tendo mais dois anos de contrato com a equipa espanhola. O próprio admitiu que teve alguns problemas e que «a relação com Mourinho numa foi boa», distraiu-se muitas vezes na noite e saía «sem o consentimento do clube» mas que «muitos jogadores também o faziam» mas sem revelar nomes.
Fui com um amigo ao casino e de repente apareceram duas raparigas muito bonitas. Fomos para um hotel os quatro. A terminar, veio o problema. Pediram-nos mil euros a cada um. Nem tinha ideia que era preciso pagar. Pensava que era apenas diversão. Não levava dinheiro, só cartões. E não ia pagar, tinha vergonha. Acabámos por dar todas as fichas que ganhámos no casino.
Sem espaço na equipa de José Mourinho, Royston Drenthe é emprestado ao Hércules, também de Espanha, e que naquela temporada estava a representar a primeira divisão do futebol espanhol. Um empréstimo que servia, acima de tudo, para voltar a valorizar um jogador que tinha perdido o foco nas últimas duas temporadas. Apesar de uma época, a nível individual, em que foi titular mas que foi tendo alguns problemas físicos que não o permitiram jogar mais, Drenthe sempre que estava disponível era sempre o titular da ala esquerda, porém não foi capaz de ajudar a equipa a evitar a despromoção naquele ano.
De volta a Madrid após o término do empréstimo e com várias propostas em mão, nomeadamente de Porto e Benfica, em que Drenthe foi prentório a dizer que «para esses dois clubes eu não vou», o holandês optou por jogar na Liga Inglesa ao serviço do Everton.
Na Premier League, Drenthe assumiu algum protagonismo, pelo menos superior às épocas do Real Madrid e ao empréstimo que teve ao Hércules. Jogou por 27 vezes (metade delas como titular) e marcou por 4 vezes. Mais uma vez, as atitudes fora do relvado prejudicaram a sua estabilidade no clube, Drenthe afirmou mesmo que «teve vários desencontros com David Moyes» e que «se fosse hoje não teria tomado algumas atitudes que tomou contra o treinador».
É devido a esta maturidade que teimou em não chegar que Drenthe perdeu o espaço no Everton e viu o clube a não exercer a sua compra. Acabou, em 2012, por regressar a Madrid mas com guia imediato de marcha porque terminava o contrato com o clube madrileno.
Sem clube, Drenthe era um alvo apetecível para clubes de menor expressão da Turquia, Grécia e Rússia. Porém, o jogador tentou forçar o seu regresso ao Feyenoord de forma a relançar a sua carreira que estava estagnada desde a sua primeira época no Real Madrid. O Feyenoord foi perentório em dizer não há vinda de Drenthe mesmo a custo zero e o holandês fez-se a vida e assinava um contrato de 6 meses com os russos do Spartak Vladikavkaz apenas para manter o ritmo de jogo. Com apenas 6 jogos e 3 golos marcados, o Spartak ficou na última posição do campeonato e acabaria por descer de divisão (a segunda descida de divisão da carreira de Drenthe) e Drenthe abandonou o clube rumo ao Reading, de Inglaterra.
No Reading, Drenthe estaria longe dos holofotes, isto porque assinava por uma clube do Championship - equivalente à nossa segunda liga de Portugal. Uma temporada no Reading chegou para os dirigentes perceberem que Drenthe não era o que eles queriam apesar de Royston Drenthe ter participado em 24 jogos, 17 deles na condição de titular. Não foi suficiente para convencer o clube e foi emprestado na temporada seguinte também para um clube da segunda divisão, o Sheffield Wednesday mas, uma vez mais, não convenceu e... em Janeiro foi repescado e assinou em definitivo, por um contrato de apenas seis meses, pelos turcos do Kayseri, clube que estava aflito na luta pela permanência. Assumiu-se como jogador titular mas não foi suficiente para ajudar a equipa a não descer de divisão. Drenthe estava amaldiçoado e, pela terceira vez, fui ver uma equipa em que estava a jogar ser relegada para a segunda divisão.
Face a despromoção do Kayseri, na época 2015/2016, Royston Drenthe viu-se novamente sem clube e sem surpresas acabaria por rumar a um clube e país com pouca expressão futebolística, o Baniyas, dos Emirados Árabes Unidos. Com a exigência de ser a camisola 7 do clube e com um futebol com o ritmo bem mais baixo e menos técnico que Drenthe estava habituado assumiu a titular em todos os jogos pelo clube marcando... zero golos. Sim, o holandês rumou ao Baniyas e com 24 jogos realizados, nesta fase da carreira a jogar um bocado mais à frente no terreno, como extremo-esquerdo, o jogador não foi capaz de marcar qualquer golo. Uma das poucas temporadas da sua carreira que termina sem qualquer golo marcado.
Com a carreira claramente sem rumo e com escolhas duvidosas nos últimos anos feitas por Drenthe, o holandês termina a carreira aos 29 anos simplesmente porque «deixou de ter prazer em jogador futebol» e dedicou-se a tempo inteiro à sua carreira enquanto rapper, sob o nome de Roya2Faces.
De volta à "sua" Holanda, Drenthe esteve parado durante 1 ano e meio do futebol. Até que no início desta temporada assumiu que ia voltar, desta vez com 31 anos mas com uma nova alma e maturidade.
Agora sou eu que trato dos meus acordos. Não era assim, agora sou mais homem. Assinava tudo o que me punham à frente e fui sempre enganado. Não pode ser, quero que os meus filhos se sintam orgulhosos de mim.
Royston Drenthe assinou pelo Sparta de Roterdão, o clube da sua cidade, o próprio admite que «está feliz» porque neste momento joga «num clube que fica praticamente no meu jardim». No ponto de vista de Drenthe, o Sparta tem «excelentes infraestruturas» e não tem dúvidas que «é um clube de primeira liga», «estou perto dos meus amigos e da minha família, tenho tudo para estabilizar aqui e voltar a demonstrar meu futebol».
Não sabemos como vai terminar a temporada, mas o que é certo é que a pausa que Drenthe deu ao futebol apesar de ter custado, foi vantajosa para o mesmo. Reencontrou-se e está a jogar a um nível que há muito não o conseguia fazer. Participou em 18 jogos nesta temporada ao serviço do clube da segunda divisão holandesa, e em todos os jogos foi titular marcando já por 4 vezes. O Sparta de Roterdão está, neste momento, na quarta posição da Liga, posição essa que dá acesso ao playoff de subida ao principal escalão daquele país.
Com 31 anos, uma família e com uma carreira musical já com diversos singles. Drenthe tentará agora reerguer-se e voltar a jogar na primeira divisão do seu país. Para trás, fica uma carreira com altos e baixos, baixos esses que prejudicaram em demasia a sua capacidade de progressão para atingir outros patamares. Apesar de tudo, esteve por três temporadas ao serviço do Real Madrid, considerado por muitos o melhor clube do mundo onde actuou por 64 vezes. O ponto mais alto da carreira de Drenthe foi a primeira, e a única, internacionalização ao serviço da Holanda.